sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"Un Sospiro" - Franz Liszt

O compositor:

Comemora-se o bicentenário do compositor este ano (2011)

(Franz Liszt 1811 - 1886)
Franz Liszt (1811 - 1886) foi um compositor Húngaro. As variantes dos nomes de Liszt são inúmeras, mas muitas concordam em seu sobrenome: Liszt. Seu nome originário dora Ferencz Liszt, e após 1859 tornou-se Franz Ritter von Liszt.
Liszt é o símbolo do Ultrarromantismo na música, exímio virtuose e partidário da intertextualidade com outras artes. O contato que Liszt quis ter com a música sacra foi muito expressivo. Nota-se que Liszt era alvo de certa admiração do Papa da época.
O compositor Húngaro também foi  fonte de muitas experimentações: música atonal, harmonias impressionistas, etc.

(Manter-me-ei breve na descrição do compositor, para esticá-la em outras peças do compositor)

No caso dos estudo de Liszt, temos uma série de volumes. Os Trois Études de Concert, os Études d'exécution transcedante d'aprés Paganini, Douze grandes études, Douze études d'exécution transcedante, Grandes études de Panini, Zwei Konzertetüden, além de uma coletânia aprimorado, denominada Technische Studien que compreende 68 estudos.

Devemos notar que o estilo de Liszt abrange demasiada dificuldade técnica. Suas peças geralmente apresentam cadences livres, momentos de improviso do compositor durante suas apresentações.

Outro fato importante, seria que Liszt foi o inventor do recital para piano! Era comum na época apenas apresentações de caráter camerístico. Contudo, em momentos que seus cúmplices musicais atrasavam ou declinavam inesperadamente, Liszt usava-se de apresentações solo para impressionar o público. Com o desenvolvimento disso surgiria o Recital propriamente dito. 

A música de Liszt é exagerada, chegando até a ser de mau gosto. O uso de intensos floreios às vezes fica pondo lombadas no desenvolver da música. Contudo, num aspecto geral, as peças grandiloquentes tomam vida e encanto próprios.

Esse mau gosto na realidade, deriva do gosto elitista da época. Liszt apenas ambicionava agradar às elites com sua música. Isso é aceitável. 

Uma breve análise sobre a obra:
 Trois Études de Concert S.144, também com título Trois Caprices Poétiques é um conjunto de três estudos que apresentam notória dificuldade técnica. Além de trabalharam o aspecto técnico do intérprete, estas peças também tem a função de executá-las em concertos (recitais). Os estudos são os seguintes:
I. Il Lamento;
II. La leggierezza;
III. Un Sospiro.

Note que Liszt não introduziu esses nomes. O editor de Liszt incrementou esses nomes no âmbito de comercializar melhor a peça. Liszt não fazia uso desses títulos. Referia as peças pelas tonalidades!

O terceiro dos estudos, e o mais famoso, "Un Sospiro" foca-se no trabalho do cruzamento da mão esquerda com a direita e vice-versa. Liszt coloca simultaneamente a melodia e o acompanhamento para serem tocados com o cruzamento das mãos. Irei postar depois um vídeo para os leitores observarem esses cruzamentos.

Un Sospiro utiliza alguns padrões formais. Um deles, são os arpeggios de Thalberg, rival de Liszt na época. Comicamente, Liszt introduz os arpeggios de seu rival nessa belíssima peça. Ademais, o caráter etéreo que a obra passa aos ouvintes, nos remete muito ao Impressionismo! Que formidável (pelo menos na minha opinião) :D ...

(Obra de Renoir. O Impressionismo também esteve ligado às artes plásticas e à literatura)

A singela melodia inicial se repetirá inúmeras vezes. As duas primeiras (que devem ser executadas, sonoramente, de maneira diferente) são compostos por notas simples (cada uma delas tocadas com uma mão alternadamente, com o acompanhamento também com as notas alternadas entre as mãos). Após uma conclusão da parte inicial, as duas seguintes repetições são executadas com oitavas quebradas. O desenvolvimento dessa melodia segue-se até um apassionato, ponto em que a peça dá um breve descanso. 
A seguinte seção consta da melodia tocada  ora no registro grave do piano, ora no registro agudo. Talvez o compositor queira que perceba-mos um jogo de vozes, entre um tenor e uma soprano, em diálogo.
O clímax da peça inicia-se após a melodia "da soprano". Com um momento de tensão todo com oitavas, a primeira parte do clímax cede a segunda após a execução de oitavas com a marcação con forza
A parte seguinte, de intenso caráter virtuosístico, compreende arpeggios na mão direita, e a melodia novamente, mas agora em estado muito mais dramático, na esquerda.
Uma cadence livre termina essa primeira porção do Estudo. O reinício se dá de forma muito mais misteriosa, etérea, com a melodia tocada em terças (novamente com o uso do cruzamento entre as mãos). A ascensão se dá por uma série de arpeggios que se alternam entre forte e pianissimo, de dificuldade clara!
Uma nova candence (livre) se desenvolve. A esse ponto, chega-se à parte final da peça. A melodia agora é tocada entre notas de arpeggios, mas ainda assim, com a alternância de mãos. É complicado fazer a nota da melodia soar mais que as outras do arpeggios. Não obstante, a melodia deve ser cristalina!! O mau gosto de Liszt está muito presente nessa parte. O compositor desenvolve o tema, e executa um floreia. Após, o tema novamente, e um novo floreio. Em seguida, o desenvolvimento do tema e um GIGANTESCO floreio! Muito exagero. A coda se dá ora por uma reintrodução da melodia, ora por inúmeros novos arpeggios.
Essa peça apresenta um coda alternativa. Ambas foram escritas por Liszt. Eu pessoalmente prefiro a Coda que faz uso de um escala tonal descrescente! Muito mais harmoniosa! Hoje em dia, esta coda é bastante executada.
Ademais, existem cadences livres adicionais, que geralmente são tocadas após a segunda cadence.
Partituras:
Trois Edutes de Concert podem ser encontrados em:
Eu também encontrei uma partitura que apresenta as cadences e coda alternativas:
A Editora Henle Verlag também apresenta uma edição trabalhada:
Interpretações: 
Existem inúmeras apresentações, contudo, nem todas são tão confiáveis, até mesmo dentre os grandes intérpretes:

Leslie Howard:

Trois Études de Concert - "Un Sospiro", Franz Liszt (Leslie Howard)

Leslie Howard, atual jurado do Concurso Franz Liszt, gravou a obra completa de Liszt para piano. A interpretação de seu "Us Sospiro" é demasiadamente técnica. Como bem disse, a obra pode ser um estudo técnico, mas também é uma obra voltada para concertos. O "Un sospiro" de Howard não dispõe de alma...

Van Cliburn:



Sviatoslav Richter:


Embora Richter execute algumas coisas interessantes, essa gravação apresenta diversas imprecisões técnicas e notas tocadas incorretamente... Mas a alma da música, diferente de Leslie Howard, está presente.

Marc-André Hamelin:


Uma interpretação que por muito tempo gostei. É bastante técnica, mas o toque apresenta classe e caráter!

György Cziffra:


 Por incrível que parece, Cziffra executa esse "Un Sospiro" com calma! É uma boa execução, mas não A execução.

Claudio Arrau:

Na minha opinião, a melhor interpretação que ouvi. Arrau nos dá um incrível balanço entre a porção técnica e lírica da obra! O que, na realidade, é o que a obra é por sua essência! Ótima interpretação!

3 comentários:

  1. Obrigada,

    uma outra obrade Liszt que é interessante de comparar, é a Fantasia Quase Sonata depois de uma leitura de Dante

    aceita o challenge? Maria

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  2. "chegando a ser de mau gosto?" é bom deixar bem claro que é pra vc, "o mau gosto de Liszt"? Meus olhos sangram kkkkkkkk, mas, é questão de gosto, respeito

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