domingo, 6 de fevereiro de 2011

Papillons - Robert Schumann

Um apanhado inicial sobre o compositor:

 (Robert Schumann)

Robert Schumann (1810 - 1856) foi um compositor de origem germânica (alemão). O grande compositor foi um dos grandes partidários do Romantismo. De forma bem aprimorada, as peças de Schumann não se situam sobretudo no repertório pianístico, pois existem uma grande variedade de peças escritas para solo em outros instrumentos, de música de câmara, orquestral etc. Contudo, é visível que o piano fora seu instrumento de foco principal.
Schumann, também pianista, teve suas aulas com Friedrich Wieck, por cuja filha, Clara Wieck, Schumann se apaixonaria.
O compositor revela seu amor por Clara Wieck (Clara Schumann, após casada), em inúmeras de suas peças.
Contudo, Schumann, temperamental, e psicologicamente doente iria mutilar-se, tentar suicidar-se, e ser internado em uma intituição, onde morreria. 
Clara, seria a principal intérprete do marido na época, divulgando suas peças em meio à Europa.
Schumann atuava como compositor intertextual, assim como inúmeros outros compositores. O músico intertextual adota uma outra fonte artística e a modela em seus meios. No caso de Schumann, é visível seu gosto pela literatura. Duas de suas peças são diretamente relacionadas com a literatura, que é o caso de "Papillons op.2" e "Carnaval op.9". Aliás, estas duas peças apresentam muito em comum, inclusive intertextualidade da primeira para com a segunda!

Papillons, op.2, é uma peça baseada no livro Flegeljahre (Tempo da Indiscrição) do escrito Jean Paul. Contudo, é difícil notar diretamente a qual pontos as peças de Papillons se correlacionam à obra literária, uma vez que Schumann removera os títulos das peças, em real tentativa de fazer com que seus ouvintes traçassem paralelos entre as obras.

 (Jean Paulo)

O próprio título, "Papillons", nunca foi explicado para esta obra, embora seja notável as imagens poéticas de borboletas (tradução) ao longo da peça. A suavidade e a ideia de voo são notáveis!

Schumann também faz intertextualidade de um tema do século XVII de uma peça chamada "Grossvaterlied" (Canção do avô), também nomeada "Grossvater tanz".

 (Um cópia de Flegeljahre)

É notável como a suíte Papillons nos mostra uma variedade de peças que evocam a cena de baile. Oras, muitas das peças são valsas!
Façamos uma passagem rápida por cada segmento de Papillons:

Introduction: a breve introdução utiliza os temas do Grossvaterlied . Há uma emenda direta com a peça seguinte, e de forma coesa.
No.1: A marcação metronômica do próprio autor informa que a peça é uma passagem rápida. Contudo Schumann articula agogicamente a peça para que seja tranquila! O extenso uso de notas pedais faz com que a correlação entre as vozes seja de importante caráter. O tema dessa peça irá ser retomado no Finale e também dentre as peças do Carnaval op.9.

No.2: A peça marcada em  Prestissimo inicia com arpejos de notas únicas ascendentes e, após, com arpejos oitavados descendentes, como introdução. O tema aparece numa segunda parte, sendo repetido duas vezes! Logo, é marcado  a primeria vez em mezzo-forte e a segunda em pianissimo. As articuções de ligaduras estão em constante mudança, então deve-se efetuar uma leitura cuidadosa! Dentro da primera vez em mezzo-forte e na segunda vez em pianissimo existem duas repetições, embora alteradas de forma própria, mas ainda com articulações diferentes. O uso do ritornello pode ser interessante (embora opcional), já que, por ser prestissimo, a peça acaba sendo muito curta! É interessante notar que existe uma execução alternativa para a forma em pianissimo, sendo muito interessante usá-la, principalmente se for feito uso do ritornello. Isso realmente impõe maior variedade à peça.

No.3: Uma passagem de caráter diferente, menos singelo, mais agressivo, nos mostra uma série de marcatos. O tema que por vez se inicia com a esquerda, é, após, introduzido na direita. Muito interessante essa variação de alturas! Fui instruído uma vez em fazer a passagem de oitavas que se iniciara com a esquerda, com as duas mãos. O efeito é muito adequado, dando maior precisão e firmeza nessa parte introdutória. Por fim, Schumann atua com um cânone, uma vez que inicia o tema com a direita e depois com a esquerda, embora este tema seja deslocado. O que por vez iniciou com um forte, acaba num piano nada singelo, mas sim dramático!
No.4: O Presto realmente nos revela o porquê desta obra ter sido denominada Papillons (Borboletas), é incrível como a parte central desta peça nos dá a impressão de borboletas batendo as asas! O início do presto é calmo, singelo, condescendente, o que dá uma beleza incrível à passagem. A parte central é realmente escapista ao movimento anterior, o qual é após retomado, mas agora com, além das características anteriores, o ar de conclusão.

No.5: Uma parte realmente mais calma, com um tema melódico simplesmente magnífico. Como existe um jogo interpolador entre as vozes, é interessante destacar uma delas com um tema e outra delas com outro. Na indicação de texto original está marcado Basso cantando, e, acredite, é muito difícil fazer esse baixo de forma cantada, evocando essa voz grave... A coda termina com um quê saltitante, dando coesão à obra.

No.6: Uma real passagem dramática, introdutória que após se repete na coda. Uma parte em pianissimo e staccato na parte central é de difícil execução, se for o intuito fazer o correto. O tema inicial se repete após a passagem, sendo introduzido um novo desenvolvimento após. Como já foi dito, a coda é uma retomada do inicio. É interessante notar que o término abrupto dá um efeito de dramaticidade incrível à peça!

No.7: Essa peça tem um iníco bem melancólico, que na versão urtext da peça, pode ser repetido, o que realmente pode ser um meio de agravar o caráter da passagem. A parte central, já bem mais calma, mostra uma resolução da seção anterior. A voz superior é realmente fundamental aqui, devendo ser destacada! Schumann com maluquices em relação às aberturas de mãos, indica que os baixos devem ser segurados... Contudo, ao menos que o intérprete seja um Liszt, isso será difícil...

No.8: Em minha opinião, uma das mais bonitas partes de Papillons. A dificuldade dessa passagem é executar as ligações e independências sonoras das notas centrais de acordes da mão direita, o que é realmente difícil e, até mesmo os grandes intérpretes, não a destacam de forma adequada. Contudo, destacando-a, o efeito é totalmente incrível. Uma parte central e mais calma em resolução da primeira, mais dramática, dá um contraste muito precioso à seção. O próximo recorte, com arpeggios em colcheias no movimento rápido,  dará uma entrada triunfal para o tema inicial, agora utilizado como coda.

No.9: Este Prestissimo é de execução difícil. A parte introdutória é o menor problema. A parte central, em colcheias, com diferentes articulações numa mesma mão, nos dois sistemas, com alternância da melodia entre as mãos, é que é a parte complicada. Muitos executantes tocam tudo staccato, o que seria uma interpretação imprecisa...

No.10: O início Vivo dessa parte é  introdutório. O tema no Píu Lento, é uma retomada do tema do no.6! Após essa reabordagem, um novo tema é trabalhado. Este é muito mais calmo, lírico e melodioso, com necessidade de destaque da voz superior. Nota-se que existem acentos que devem ser executados na mão esquerda! A parte seguinte é quase cadenciada, bem mais calma, mas com um quê misterioso. Após, o tema anteriormente trabalhado é retomado. até o término da peça.

No.11: Realmente, uma das peças mais difíceis. Após a parte introdutória, um tema, que realmente faz jus ao nome Papillons é introduzido e trabalhado. Uma passagem mais movimentada segue, que se subdivide em quatro partes, uma pergunta (duplamente questionada), uma resposta descendente, um jogo de ornamentos rápidos, e um trabalho de conclusão. Após, o tema "papillonístico" é retomado. Uma nova seção, mais lenta, sincopada, em  piano é introduzida, voltando num risoluto para uma nova seção, agora em oitavas, com a esquerda sincopada! O tema secundário é retomado novamente na mesma forma, perguntas, resposta, desenvolvimento ornamentístico, conclusão, sendo, após, retomado o tema primário, o que nos leva à conclusão da peça.
Finale: O Finale retoma o tema do Grossvaterlied apresentado na introdução. O tema da primeira peça de Papillons também é retomado aqui. Após, o compositor faz o jogo entre o tema da primeira peça (na direita) e o tema do Grossvaterlied, de forma harmoniosa (na esquerda). Após, o compositor faz um novo jogo, retira progressivamente notas do tema da primeira peça. A coda é introduzida por um arpeggio, cujas notas são sustentadas e, aos poucos, retiradas, uma por uma. A peça de 15 minutos termina num molto pianissimo em staccato, cômico, não?

Partituras:

Essa peça é muito interessante de ser tocada antes do Carnaval op.9. A versão Urtext (em texto original), é mais adequada! Uma versão gratuita pode ser encontrada em:


A versão da Editora Henle Verlag, nos introduz um Urtext muito confiável:


Interpretações:

Nelson Freire


Introduction

no.1

no.2

no.3

no.4

no.5

no.6

no.7

no.8

no.9

no.10

no.11

Finale


Sviatoslav Richter


Papillons, op.2

Dentre os dois, eu realmente prefiro a interpretação de Nelson Freire, embora não concorde com algumas partes de sua interpretação. Contudo, ambos os intérpretes são formidáveis e muito notórios por isso...

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