domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sonata em ré menor, K.141, L.422 - Domenico Scarlatti

Um pouco sobre o compositor:

(Domenico Scarlatti: 1685 - 1757)
Giuseppe Domenico Scarlatti (1685 - 1757)  foi um compositor de origem italiana (embora a Itália ainda não fosse um Estado formado). Comicamente, três dos grandes mestres da música Barroca nasceram no mesmo ano (D. Scarlatti, J. S. Bach e Händel). Scarlatti desenvolveu extenso trabalho nas cortes Portuguesa e Espanhola a serviço das famílias reais. É de se esperar que sua música tenha sido influenciada pelo encanto ibérico, e isso é muito perceptível! Não apenas esse quê ibérico, mas também o aspecto eletista da corte pode ser encontrado dentr as mais diversas peças de Scarlatti. 
O pai de Scarlatti, Alessandro Scarlatti, fora um extenso compositor de árias e peças voltadas para canto. Já seu filho, considerado um dos melhores cravistas da época, dedicou sua música a seu instrumento fundamental.
Embora apresente peças secundárias, Scarlatti é renomado por suas 555 sonatas para instrumentos de teclado. 
Deve-se notar a utilização do termo "instrumentos de teclado", uma vez que nem todas sonatas foram voltadas apenas para o cravo. Poucas sonatas foram escritas voltadas para órgão e algumas até foram escritas para o pianoforte.

Vamos diferenciar cada um dos instrumentos:

Cravo: é um instrumento de teclado cujas cordas são pinçadas por penas ao tocar-se a tecla. A variação de dinâmicas era mínima, por essa razão, é fora de estilo romantizar ou exagerar dinâmicas ao se tocar peças barrocas em instrumentos de teclado contemporâneos. O instrumento não apresentava pedais.
(Cravo Duplo)

Órgão: é um instrumento que utiliza tanto teclas, voltadas para mão, como pedais, voltados para os pés. Órgãos foram, durante muito tempo, utilizados para peças sacras e religiosas! Muitos compositores barrocos fizeram extensas composições para esse instrumento.
 (Órgão residencial)

Pianoforte: é um instrumento de teclas em que as cordas são marteladas. O nome "pianoforte" decorre da possibilidade de variação mais clara de dinâmica, podendo fazer dinâmicas piano e forte (irônico, não?). O pianoforte, diferente do cravo, foi um instrumento que surgiu mais no desenvolvimento da música Clássica. O pianoforte apresentava pedais de sustentação, os quais, no entanto, eram ativados nos joelhos do intérprete.
 (Pianoforte)

Observa-se pela data de vida de Scarlatti, que este esteve incluso no início do desenvolvimento da música Clássica, e isto também se pode perceber em suas pessas mais tardias.
Existe, evidemente, uma forte necessidade de se catalogar as peças de Scarlatti. Imagine procurar uma Sonata dentre as 555! Por esse motivo, vários catálagos foram elaborados. Dentre os mais importantes estão o do cravista Ralph Kirkpatrick, que segue o catálogo K. (não confundir com o índice Köchel de Mozart), ordenado cronologicamente segundo as composições de Scarlatti; e o do pianista Alessandro Longo, que segue o catálogo L., cujas peças são agrupadas em "suítes".

As Sonatas de Scarlatti não são sonatas no termo Clássico. Não seguem todo aquele estilo da Forma Sonata desenvolvida por Haydn! As Sonatas de Scarlatti são peças binárias (i.e. a peça apresenta duas partes perceptíveis), que geralmente são divididas mediante ritornellos.

Voltando-nos à peça:

A Sonata em ré menor K.141 tem a indicação toccata. A Toccata é uma peça que busca desafiar a destreza e capacidade do intérprete. A Sonata L.422 é uma Toccata que testa o uso de notas repetidas e de saltos ENORMES dentre melodias. Devo ressaltar enormes, porque, embora o salto requisite apenas metade do teclado, estamos fazendo isto em Presto...

A peça faz uso na introdução de acordes em arpeggios na mão esquerda, que devem dar um efeito sonoro apenas. Existe, após uma seção de arpegios múltiplos, que devem ressaltar a nota superior, em canto, e em resposta com a esquerda (pergunta x resposta). Em seguida chega uma parte complicada, que necessita de extrema agilidade nos dedos e percepção rítmica, que é o uso de trinados seguidos de terminações alteradas em fusas (num Presto...).  Estes trinados e terminações dão um característico ar espanhol à peça.
Esta seção é seguida por uma outro estilo de notas repetidas, enquanto a mão esquerda introduz um jogo contrapontístico polifônico de importante caráter. É seguida por partes de insistência, cujas demonstrações de insistência devem ser bem evidenciadas! Após, chega a seção dos saltos, em que a mão direita deve ter o cuidado de cair sempre na nota certa e evitando de socar a primeira nota após o salto. Uma codetta termina a primeira parte da sonata.
A segunda parte é iniciada por um aspecto que lembra muito a ambientação da corte, a qual pode ser visualizada não mão esquerda, logo, deve ser tocada com classe! Enquanto a mão esquerda executa este caráter, a mão direita desenvolve-se em notas repetidas. A Segunda parte segue até o ponto em que retoma o desenvolvimento da primeira parte, mas agora na Tônica (a Primeira fora feita na Dominante), a seção se desenvolve até um Coda extendida que dá fim à Sonata.

É realmente uma peça de difícil execução, mas é simplesmente maravilhosa!
Partituras:

Não se pode dizer que existem edições tão aconselháveis quanto outras quando se diz em Scarlatti, uma vez que manuscritos não foram encontrados com autógrafo do compositor. O que existiram, foram cópias feitas por amigos de Scarlatti. Assim, dificilmente achamos edições totalmente confiáveis.
Logo, devemos pensar no estilo da época, no que as dinâmicas e articulações realmente deveriam dizer!
Nesse link estão 15 sonatas de Scarlatti, dentre elas a L.422:


A editora Henle Verlag selecionou diversas Sonatas de Scarlatti. Sendo uma fonte confiável, sempre. Você pode encontrar a Sonata K.141 em:


Interpretações:

Uma das interpretações obrigatórias dessa peça é a de Martha Argerich.



O engraçado.... digo, amedrontador, é que Martha nunca desejou gravar em CD essa Sonata, a qual usa de bis recorrentemente em seus concertos. O fato de não querer gravar decorre do seguinte: Martha tirou essa peça de cabeça quando tinha 9 anos ao ver sua professora tocando (um monstro pianístico, não?); e pelo fato de nunca ter visto a partitura, não sabe se toca corretamente a peça.

Evidente, Argerich toca a Sonata demasiadamente rápido. Pode-se dizer que é estilisticamente incorreto, o toque não teria repetição adequada num cravo. MAS QUEM SE IMPORTA? Ela toca muito bem de qualquer jeito!

Emil Gilels


Sonata K.141, L.422 de Scarlatti


A interpretação de Gilels é estilisticamente precisa, embora ele use um pouco do pedal sustain e da una corda numa passagem... Ele adota aquele estilo espanhol e relativo à corte! Tampouco corre muito (embora eu preferiria um pouco mais rápido), o que confere importância aos elementos em seu exato momento...

3 comentários:

  1. É claro que a Martha nunca pode faltar! Não sabia dessa dela ''não saber se tocava a música direito'' haha. Muito bom o texto!

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  2. kkkkkk
    fico impressionada,msm ja tendo ouvido essa historia antes..rsrs
    loucura total...quase um monstrinho...

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  3. Todos sabemos que a nossa querida Martha é o monstro da música erudita! :)

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