terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Estampes - Claude Debussy

Um pouco sobre o compositor:

(Claude-Achille Debussy 1862 - 1918)

Claude-Achille Debussy (1862-1918) foi um compositor francês. O favorito, o supremo, o formidável.... Debussy. Qual postura devo adotar para tamanho gênio da música?

Claude Debussy foi um dos partidários do movimento da música Impressionista (assim como Ravel). A música Impressionista fazia uso de jogos e combinações harmônicas e timbrísticas para que efeitos sinestésicos e imagéticos fossem recebidos pelo ouvinte.
O próprio nome diz "Impressionismo", impressão. O ouvinte deve, com a música, criar uma percepção da peça.
As pessoas tendem a duvidar das capacidades de Debussy. O brilhantismo do autor, de difícil compreensão, quando entendido, é irrefutável! Os jogos de articulação, os efeitos das notas-pedal, as dissonâncias insólitas (embora perfeitas), os jogos de escalas exóticas, as variações precisas das durações das notas, todas, entre muitas outras, são características da música deste sublime compositor.

Sim, ele é meu favorito.

Enfim, Debussy estudou profundamente no Conservatório de Paris, local onde teria aulas com os mais notáveis docentes da música universal (da época), tais como Émile Durand, César Franck e Ernest Guiraud. Durante seus estudos, apesar do notável talento, era de hábito do compositor efetuar experimentações com acordes nada usuais (até então).

Como nenhuma inovação é aceita tão rapidamente, as composições de Debussy levaram tempo para ganhar destaque, chegando ao ponto em que o compositor venceu o famoso Prix de Rome, para compositores, com sua peça L'enfant prodigue.

Muitos compositores que catalogam as peças de Debussy, tendem a notar um certo padrão de composição, e dividir as levas de composições em períodos. Existem alguns estudioso que argumentam que até mesmo 5 períodos podem ser observados nas peças de Debussy.

Uma breve análise sobre a obra:

Estampes, composto em 1903 é agrupada numa segunda fase das composições de Debussy. Essa segunda fase compreende peças como D'un cahier d'esquisses, Lindaraja, Masques etc. A segunda fase seria estabelecida no momento em Debussy se entrega à "observação arguta e sensitiva dos fenôminos e das estórias, terras e lendas" (O som Pianístico de Claude Debussy, José Eduardo Martins). A obra foi debutado pelo pianista Ricardo Viñes, famoso pianista da época.

Estampes marcariam, juntos com as Images, o auge da capacidade do autor em criar a partir dos sons, efeitos imagéticos, oras do Extremo Oriente, ora da Espanha, ora de Jardins sob as chuvas. Os detalhes dados à obra pelo autor são inúmeros!

Estampes é integrado por três peças: "Pagodes",  "La Soirée dans Grenade" e "Jardins sous la pluie". Vejamos algo sobre cada uma das três peças:

I. "Pagodes": Não, Pagodes não é pagode (nem axé, etc). Primeiro que se pronuncia /págôdê/! Debussy fora muito influenciado pela Exposição Universal de 1889, em Paris. Nela, o compositor tomou nota de uma orquestra javanesa, composta por inúmeros timbres de cunho orientalístico. Tomando este ponto de partida, Debussy escreveria "Pagodes" baseando-se nas imagens dos templos do Extremo Oriente (imaginem um Buda, qualquer coisa). Nesta peça, Debussy faz uso da escala pentatônica, fato que introduz incrível efeito de melodias orientais!

II. "Soirée dans Grenade": muitos já ouviram falar do famoso compositor espanhol Manuel de Falla. Ao ser questionado qual obra melhor evocava ares espanhóis, de Falla não hesitou, sua resposta: " 'Soirée dans Grenade' ". É cômico perceber que Debussy não utilizou temas folclóricos espanhóis, mas todo milésimo de segundo da peça evocam a Espanha. Também na Exposição Universal, teve lá Debussy contato com cantos e danças espanholas. Talvez desta visão pode Debussy criar essa imagem espanhola tão digna. Soirée nos introduz uma ambientação noturna, e as marcações dados por Debussy, como "... plus d'abandon", nos passam essa impressão (impressão <> Impressionismo) de noite.

III. "Jardins sous la Pluie": minha seção favorita de Estampes. Debussy baseou essa peça nos jardins de Mademoselle de la Rouvrage. O compositor faz extenso uso de canções populares francesas nos temas, tais como Dodo, l'enfant dormira bientôt e Nous n'irons plus au bois, les lauriers sont coupés. As notas do tema, realmente lançadas, nos passam a ideia de gotas caindo... Perfeito!


Partituras:

Uma versão gratuita pode ser encontrada em:


A versão da Henle Verlag, editora que trabalha divinamente os manuscritos de Debussy, pode ser encontrada em:


Interpretações:

Sinceramente, eu discordo de pelo menos 5 coisas em todas as interpretações de Estampes que ouvi até hoje (que devem ter sido cerca de 35). Isso inclui as interpretações dos grandes mestres do piano... Talvez isso prove o quão difícil Debussy realmente é...
O importante da música de Debussy é criar a ambientação e entregar de braços abertos as imagens, as fotografias que a música evocam para o ouvinte.
Não obstante, encontrei algumas interpretações interessantes... Algumas não vou conseguir disponibilizar agora, mas correrei atrás (promessa :x)...

Alexis Wassenberg:

Detalhe: Eu acho esse "Jardins sous la pluie" demasiadamente rápido... Nós queremos visualizar um Jardim sob a chuva e não o Rio de Janeiro em estado de alagamento...

Giesking (irei disponibilizar - minha favorita).

2 comentários:

  1. "Sim, ele é meu favorito",quem te conhece realmente pode confirmar isso,neh dudu?rsrs
    Gostei particularmente da ultima,"Jardins sous la Pluie".
    O interessante,é que quando eu estava ouvindo as peça,eu estava ocupada fazendo outra coisa ,mas quando chegou nessa ultima,por impulso, parei o que estava fazendo...
    Quando reparei,minha respiração estava mais ofegante.
    A imagem era realmente o que eu procurava;um lugar agitado,misterioso,e ate mesmo perigoso, mas que não perde o seu encanto.
    Adoravel!!

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  2. Impressionante mesmo é vc acertar 2x minhas preferências.
    Amei o post, conciso e rico.

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