sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"Un Sospiro" - Franz Liszt

O compositor:

Comemora-se o bicentenário do compositor este ano (2011)

(Franz Liszt 1811 - 1886)
Franz Liszt (1811 - 1886) foi um compositor Húngaro. As variantes dos nomes de Liszt são inúmeras, mas muitas concordam em seu sobrenome: Liszt. Seu nome originário dora Ferencz Liszt, e após 1859 tornou-se Franz Ritter von Liszt.
Liszt é o símbolo do Ultrarromantismo na música, exímio virtuose e partidário da intertextualidade com outras artes. O contato que Liszt quis ter com a música sacra foi muito expressivo. Nota-se que Liszt era alvo de certa admiração do Papa da época.
O compositor Húngaro também foi  fonte de muitas experimentações: música atonal, harmonias impressionistas, etc.

(Manter-me-ei breve na descrição do compositor, para esticá-la em outras peças do compositor)

No caso dos estudo de Liszt, temos uma série de volumes. Os Trois Études de Concert, os Études d'exécution transcedante d'aprés Paganini, Douze grandes études, Douze études d'exécution transcedante, Grandes études de Panini, Zwei Konzertetüden, além de uma coletânia aprimorado, denominada Technische Studien que compreende 68 estudos.

Devemos notar que o estilo de Liszt abrange demasiada dificuldade técnica. Suas peças geralmente apresentam cadences livres, momentos de improviso do compositor durante suas apresentações.

Outro fato importante, seria que Liszt foi o inventor do recital para piano! Era comum na época apenas apresentações de caráter camerístico. Contudo, em momentos que seus cúmplices musicais atrasavam ou declinavam inesperadamente, Liszt usava-se de apresentações solo para impressionar o público. Com o desenvolvimento disso surgiria o Recital propriamente dito. 

A música de Liszt é exagerada, chegando até a ser de mau gosto. O uso de intensos floreios às vezes fica pondo lombadas no desenvolver da música. Contudo, num aspecto geral, as peças grandiloquentes tomam vida e encanto próprios.

Esse mau gosto na realidade, deriva do gosto elitista da época. Liszt apenas ambicionava agradar às elites com sua música. Isso é aceitável. 

Uma breve análise sobre a obra:
 Trois Études de Concert S.144, também com título Trois Caprices Poétiques é um conjunto de três estudos que apresentam notória dificuldade técnica. Além de trabalharam o aspecto técnico do intérprete, estas peças também tem a função de executá-las em concertos (recitais). Os estudos são os seguintes:
I. Il Lamento;
II. La leggierezza;
III. Un Sospiro.

Note que Liszt não introduziu esses nomes. O editor de Liszt incrementou esses nomes no âmbito de comercializar melhor a peça. Liszt não fazia uso desses títulos. Referia as peças pelas tonalidades!

O terceiro dos estudos, e o mais famoso, "Un Sospiro" foca-se no trabalho do cruzamento da mão esquerda com a direita e vice-versa. Liszt coloca simultaneamente a melodia e o acompanhamento para serem tocados com o cruzamento das mãos. Irei postar depois um vídeo para os leitores observarem esses cruzamentos.

Un Sospiro utiliza alguns padrões formais. Um deles, são os arpeggios de Thalberg, rival de Liszt na época. Comicamente, Liszt introduz os arpeggios de seu rival nessa belíssima peça. Ademais, o caráter etéreo que a obra passa aos ouvintes, nos remete muito ao Impressionismo! Que formidável (pelo menos na minha opinião) :D ...

(Obra de Renoir. O Impressionismo também esteve ligado às artes plásticas e à literatura)

A singela melodia inicial se repetirá inúmeras vezes. As duas primeiras (que devem ser executadas, sonoramente, de maneira diferente) são compostos por notas simples (cada uma delas tocadas com uma mão alternadamente, com o acompanhamento também com as notas alternadas entre as mãos). Após uma conclusão da parte inicial, as duas seguintes repetições são executadas com oitavas quebradas. O desenvolvimento dessa melodia segue-se até um apassionato, ponto em que a peça dá um breve descanso. 
A seguinte seção consta da melodia tocada  ora no registro grave do piano, ora no registro agudo. Talvez o compositor queira que perceba-mos um jogo de vozes, entre um tenor e uma soprano, em diálogo.
O clímax da peça inicia-se após a melodia "da soprano". Com um momento de tensão todo com oitavas, a primeira parte do clímax cede a segunda após a execução de oitavas com a marcação con forza
A parte seguinte, de intenso caráter virtuosístico, compreende arpeggios na mão direita, e a melodia novamente, mas agora em estado muito mais dramático, na esquerda.
Uma cadence livre termina essa primeira porção do Estudo. O reinício se dá de forma muito mais misteriosa, etérea, com a melodia tocada em terças (novamente com o uso do cruzamento entre as mãos). A ascensão se dá por uma série de arpeggios que se alternam entre forte e pianissimo, de dificuldade clara!
Uma nova candence (livre) se desenvolve. A esse ponto, chega-se à parte final da peça. A melodia agora é tocada entre notas de arpeggios, mas ainda assim, com a alternância de mãos. É complicado fazer a nota da melodia soar mais que as outras do arpeggios. Não obstante, a melodia deve ser cristalina!! O mau gosto de Liszt está muito presente nessa parte. O compositor desenvolve o tema, e executa um floreia. Após, o tema novamente, e um novo floreio. Em seguida, o desenvolvimento do tema e um GIGANTESCO floreio! Muito exagero. A coda se dá ora por uma reintrodução da melodia, ora por inúmeros novos arpeggios.
Essa peça apresenta um coda alternativa. Ambas foram escritas por Liszt. Eu pessoalmente prefiro a Coda que faz uso de um escala tonal descrescente! Muito mais harmoniosa! Hoje em dia, esta coda é bastante executada.
Ademais, existem cadences livres adicionais, que geralmente são tocadas após a segunda cadence.
Partituras:
Trois Edutes de Concert podem ser encontrados em:
Eu também encontrei uma partitura que apresenta as cadences e coda alternativas:
A Editora Henle Verlag também apresenta uma edição trabalhada:
Interpretações: 
Existem inúmeras apresentações, contudo, nem todas são tão confiáveis, até mesmo dentre os grandes intérpretes:

Leslie Howard:

Trois Études de Concert - "Un Sospiro", Franz Liszt (Leslie Howard)

Leslie Howard, atual jurado do Concurso Franz Liszt, gravou a obra completa de Liszt para piano. A interpretação de seu "Us Sospiro" é demasiadamente técnica. Como bem disse, a obra pode ser um estudo técnico, mas também é uma obra voltada para concertos. O "Un sospiro" de Howard não dispõe de alma...

Van Cliburn:



Sviatoslav Richter:


Embora Richter execute algumas coisas interessantes, essa gravação apresenta diversas imprecisões técnicas e notas tocadas incorretamente... Mas a alma da música, diferente de Leslie Howard, está presente.

Marc-André Hamelin:


Uma interpretação que por muito tempo gostei. É bastante técnica, mas o toque apresenta classe e caráter!

György Cziffra:


 Por incrível que parece, Cziffra executa esse "Un Sospiro" com calma! É uma boa execução, mas não A execução.

Claudio Arrau:

Na minha opinião, a melhor interpretação que ouvi. Arrau nos dá um incrível balanço entre a porção técnica e lírica da obra! O que, na realidade, é o que a obra é por sua essência! Ótima interpretação!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Estampes - Claude Debussy

Um pouco sobre o compositor:

(Claude-Achille Debussy 1862 - 1918)

Claude-Achille Debussy (1862-1918) foi um compositor francês. O favorito, o supremo, o formidável.... Debussy. Qual postura devo adotar para tamanho gênio da música?

Claude Debussy foi um dos partidários do movimento da música Impressionista (assim como Ravel). A música Impressionista fazia uso de jogos e combinações harmônicas e timbrísticas para que efeitos sinestésicos e imagéticos fossem recebidos pelo ouvinte.
O próprio nome diz "Impressionismo", impressão. O ouvinte deve, com a música, criar uma percepção da peça.
As pessoas tendem a duvidar das capacidades de Debussy. O brilhantismo do autor, de difícil compreensão, quando entendido, é irrefutável! Os jogos de articulação, os efeitos das notas-pedal, as dissonâncias insólitas (embora perfeitas), os jogos de escalas exóticas, as variações precisas das durações das notas, todas, entre muitas outras, são características da música deste sublime compositor.

Sim, ele é meu favorito.

Enfim, Debussy estudou profundamente no Conservatório de Paris, local onde teria aulas com os mais notáveis docentes da música universal (da época), tais como Émile Durand, César Franck e Ernest Guiraud. Durante seus estudos, apesar do notável talento, era de hábito do compositor efetuar experimentações com acordes nada usuais (até então).

Como nenhuma inovação é aceita tão rapidamente, as composições de Debussy levaram tempo para ganhar destaque, chegando ao ponto em que o compositor venceu o famoso Prix de Rome, para compositores, com sua peça L'enfant prodigue.

Muitos compositores que catalogam as peças de Debussy, tendem a notar um certo padrão de composição, e dividir as levas de composições em períodos. Existem alguns estudioso que argumentam que até mesmo 5 períodos podem ser observados nas peças de Debussy.

Uma breve análise sobre a obra:

Estampes, composto em 1903 é agrupada numa segunda fase das composições de Debussy. Essa segunda fase compreende peças como D'un cahier d'esquisses, Lindaraja, Masques etc. A segunda fase seria estabelecida no momento em Debussy se entrega à "observação arguta e sensitiva dos fenôminos e das estórias, terras e lendas" (O som Pianístico de Claude Debussy, José Eduardo Martins). A obra foi debutado pelo pianista Ricardo Viñes, famoso pianista da época.

Estampes marcariam, juntos com as Images, o auge da capacidade do autor em criar a partir dos sons, efeitos imagéticos, oras do Extremo Oriente, ora da Espanha, ora de Jardins sob as chuvas. Os detalhes dados à obra pelo autor são inúmeros!

Estampes é integrado por três peças: "Pagodes",  "La Soirée dans Grenade" e "Jardins sous la pluie". Vejamos algo sobre cada uma das três peças:

I. "Pagodes": Não, Pagodes não é pagode (nem axé, etc). Primeiro que se pronuncia /págôdê/! Debussy fora muito influenciado pela Exposição Universal de 1889, em Paris. Nela, o compositor tomou nota de uma orquestra javanesa, composta por inúmeros timbres de cunho orientalístico. Tomando este ponto de partida, Debussy escreveria "Pagodes" baseando-se nas imagens dos templos do Extremo Oriente (imaginem um Buda, qualquer coisa). Nesta peça, Debussy faz uso da escala pentatônica, fato que introduz incrível efeito de melodias orientais!

II. "Soirée dans Grenade": muitos já ouviram falar do famoso compositor espanhol Manuel de Falla. Ao ser questionado qual obra melhor evocava ares espanhóis, de Falla não hesitou, sua resposta: " 'Soirée dans Grenade' ". É cômico perceber que Debussy não utilizou temas folclóricos espanhóis, mas todo milésimo de segundo da peça evocam a Espanha. Também na Exposição Universal, teve lá Debussy contato com cantos e danças espanholas. Talvez desta visão pode Debussy criar essa imagem espanhola tão digna. Soirée nos introduz uma ambientação noturna, e as marcações dados por Debussy, como "... plus d'abandon", nos passam essa impressão (impressão <> Impressionismo) de noite.

III. "Jardins sous la Pluie": minha seção favorita de Estampes. Debussy baseou essa peça nos jardins de Mademoselle de la Rouvrage. O compositor faz extenso uso de canções populares francesas nos temas, tais como Dodo, l'enfant dormira bientôt e Nous n'irons plus au bois, les lauriers sont coupés. As notas do tema, realmente lançadas, nos passam a ideia de gotas caindo... Perfeito!


Partituras:

Uma versão gratuita pode ser encontrada em:


A versão da Henle Verlag, editora que trabalha divinamente os manuscritos de Debussy, pode ser encontrada em:


Interpretações:

Sinceramente, eu discordo de pelo menos 5 coisas em todas as interpretações de Estampes que ouvi até hoje (que devem ter sido cerca de 35). Isso inclui as interpretações dos grandes mestres do piano... Talvez isso prove o quão difícil Debussy realmente é...
O importante da música de Debussy é criar a ambientação e entregar de braços abertos as imagens, as fotografias que a música evocam para o ouvinte.
Não obstante, encontrei algumas interpretações interessantes... Algumas não vou conseguir disponibilizar agora, mas correrei atrás (promessa :x)...

Alexis Wassenberg:

Detalhe: Eu acho esse "Jardins sous la pluie" demasiadamente rápido... Nós queremos visualizar um Jardim sob a chuva e não o Rio de Janeiro em estado de alagamento...

Giesking (irei disponibilizar - minha favorita).

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Bolero op.19 - Fryderyk Chopin

Um pouco sobre o compositor:

(Fryderyk Chopin 1810 - 1849)

Fryderyk Franciszek Chopin (1810 - 1849) foi um compositor polonês. Antes de iniciar a vida, obra, estilo, etc; do compositor, vamos resolver uma questão importante antes: a pronúncia do nome! Muitas pessoas são corrigidas e corrigem aos outros sobre a correta pronúncia de Chopin. O fato é o seguinte: Chopin viveu grande parte de sua vida em Paris, resultando num afrancesamento de seu nome. Logo, costuma-se dizer que o nome Chopin dever ser pronunciado como /xopã/. Oras, até o nome do pobre compositor fora afrancesado (Frédéric François Chopin). Todavia, Chopin era POLONÊS, seu nome era Fryderyk Franciszek Chopin e a pronúncia de Chopin é /Rôpin/! Sim senhor!
Resolvido isso, vamos ao próximo fato que nos interessa. Chopin foi um compositor partidário, e até mesmo símbolo, do Romantismo. Toda aquela história de Rubatos etc, é praticamente lei nas peças de Chopin. Nas épocas dos nacionalismos, Chopin instaurou os fundamentos musicais, temas e melodias populares poloneses em suas obras.
Chopin nasceu no mesmo ano de Schumann, com quem teria contato. Um ano após, nasceria Liszt, o compositor virtuosístico húngaro. A época dos Romantismos caracterizou muitos virtuoses. A música agora deveria, além de desafio lírico, musical, formal, etc, um desafio técnico. 
As Peças de Chopin abrangem diversas dificuldades técnicas, mas nenhuma delas é muito básica. Ademais, para se tocar Chopin necessita-se de enorme maturidade musical (e pessoal). Assim, é meio rudimentar passar peças de Chopin para jovens de 12 e 13 anos tocarem. Talvez toquem a peça de forma adequada, talvez não; mas ainda sim é rudimentar...
Durante boa parte da vida de Chopin, até sua morte, este viveria em Paris, servindo como pianista, professor e compositor.
Chopin comentava que nunca tivera grandes alunos, uma vez que apenas a classe nobiliárquica servia como discente.
Ademais, Chopin, como pianista, não almejava apenas as peças Românticas. Por exemplo, Chopin adorava as peças de Scarlatti, e as tocaria em seus recitais se não fosse pelo gosto exclusivista e faminto por virtuosismo das elites.
Por fim, como compositor, Chopin ambicionava agradar aos gostos das elites e ao mesmo tempo divulgar o nacionalismo polonês.

Chopin foi quase exclusivamente compositor para o instrumento piano (existem excessões). Isso decorre do fato de Chopin desconhecer o trabalho correto para com outros instrumentos. Por exemplo, os concertos para piano e orquestra do compositor, foram auxiliados por um aluno orquestrador de Chopin.
Não obstante, o vasto repertório pianístico de Chopin abrange prelúdios, sonatas, concertos, mazurkas, noturnos, estudos, poloneses, valsas, ballades, scherzos, rondós, etc.
Citei agora algumas peças com as quais Chopin desenvolveu extenso trabalho, como é mais destacado os casos das Mazurkas, do Noturnos, dos Estudos e das Poloneses. Contudo, existem peças unitárias, as quais, por não fazer parte destes grupos maiores, acabaram caindo em desuso. Uma delas é o Bolero op.19.

Análise breve sobre a peça:

O Bolero é um dança/música de andamento lento. O Bolero é de origenário da Espanha. Tem fórmula de compasso 3/4 e surgiu no século XVIII. O Bolero é um mistura da Contradanse e da Sevillana. Só para constar, Chopin também compôs uma Contradanse.

Contudo o Bolero de Chopin destoa da definição espanhola em alguns aspectos.
Primeiramente, o Bolero e de fórmula de compasso 3/8 e é marcado com um início em Molto allegro. Alguns diriam "essa peça tem pouco de Bolero"...

O início começa com acordes fortes e sustentados em risoluto, seguindo por uma passagem virtuosística. O fim desta passagem seguem com uma série de notas em intervalos que formam um caráter cíclico, com a indicação de acentos nos primeiros tempo. O verdadeiro bolero entra na porção seguinte, com o Píu lento. O tema melodioso faz jus ao nome de Chopin. Oras, como diria uma professora minha "Chopin foi um melodista fantástico". Qualquer coisa que o mestre escreveria, sairia com beleza extrema!
A parte calma cai novamente numa parte virtuosística que exprime uma fugacidade. Esse efeito dramático é fantástico para o Allegro vivace que se segue. As notas pontuadas podem ser exageradas, para tentar caracterizar um pouco o ar espanhol do Bolero. Contudo, seria difícil vencer o ar polonês da peça...
As melodias introduzidas nesse Bolero, os agudos, as pontuações, os acentos, se bem observados e executados, introduzem um caráter fabuloso à obra.
A primeira repetição do tema se dá após uma descida com portamentos. Contudo, nessa repetição, Chopin introduz maiores floreios, característica tipicamente romântica. Outra terminação fugaz desta vez introduz um Risoluto com a marcação con anima (com alma). Uma parte mais calma e sutil, eu pessoalmente diria.
O desenvolvimento se dá até o ponto em que o tem do Allegro vivace é introduzido, contudo sem ainda toda aquela nostalgia inicial. Todavia, a peça vai criando condições para que este mesmo tema seja retomado com força equivalente à primeira vez.
Como ocorreu na primeira exposição, uma nova passagem virtuosística da, novamente, uma entrada ao Risoluto, que dessa vez tera a função de Coda, e encerrará a obra.

Partituras:

Uma edição gratuita do Bolero pode ser encontrada em:


A versão da Henle Verlag é totalmente detalhista e emprega as indicações originais dada por Chopin:


Interpretações:

São raras as apresentações que envolvem a execução do Bolero. Esta peça era mais tocada no início do século XX. Contudo, selecionei algumas gravações excelentes para os internautas ouvirem!

Idel Biret:

Chopin - Bolero op.19 (Idel Biret)

Idel é uma pianista turca. A Virtuose gravou uma coleção com todas as peças de Chopin para piano.

Vladimir Ashkenzy:
O famoso pianista, vencedor do Queen Elisabeth Piano Competition tem umas das melhores interpretações deste Bolero.


Ingolf Wunder:


O pianista vice-campeão do Concurso Chopin 2010 executou esta peça dentro de uma de sua audições. Ingolf nos apresenta com um interpretação mais moderna e, de qualquer forma, magnífica.

Toccata - Mily Balakirev

Abordagens iniciais sobre o autor:

(Mily Balakirev 1837 - 1910)

Mily Alexeyevich Balakirev (1837 - 1910) foi um compositor russo. Balakirev foi ícone do nacionalismo romantista russo.
Na época do avanço do Romantismo, os Nacionalismos ascendiam no intuito de enaltecer a cultura de determinado país em questão. O movimento russo  se inicia com Mikhail Glinka, pai do movimento, e Balakirev.
Balakirev ficou famoso por conseguir desenvolver aspectos musicais que conseguissem expressar esse sentimento nacionalista.
Num âmbito mais geral, Balakirev  formou o grupo "Os Cinco", composto por Alexander Borodin, César Cui, Modest Mussorgsky e Nikolai Rimsky-Korsakov (gente muito humilde, não?). Contudo, Balakirev serviu durante muito tempo como mentor do grupo, uma vez que seus outros partidários ainda eram amadores no âmbito musical, embora com enorme potencial.
Balakirev influenciou ainda outros compositores, como Pyotr Ilyich Tchaikovsky, com quem correspondeu  a Fantasie-overture de Romeo e Julieta.
As composições de Balakirev caíram no desuso ou desconhecimento, pois muitas de suas criações foram obscurecidas por estreias dos outros compositores russos. Contudo, as obras de Balakirev sempre foram de um caráter especial.

Uma das peças mais famosas, e ainda muito tocada, na atualidade, é Islamey. A peça é de dificuldade virtuosística extrema, rivalizando com o famoso Scarbo de Gaspard de la Nuit de Maurice Ravel.
Uma rápida análise sobre a Toccata:

A Toccata de Balakirev foi uma das muitas obras do compositor que cairam no esquecimento. De caráter virtuosístico e de dificuldade considerável, a peça fora escrita no fim da vida do compositor (1902).
A Toccata, como característica formal da peça, testa a destreza dos dedos do intérprete. Contudo, singelamente, Balakirev coloca a indicação Allegro ma non troppo. Esse andamento mais contido, aliado ao tom Dó# menor, trás ar de melancolia à peça.
Existe um jogo de articulações na mão esquerda entre staccatos e legatos. Normalmente, é interessante demonstrar esses legatos em cantabile.
Enquanto isso, a mão direita faz um jogo entre semicolcheias e tercinas, as quais, repetidamente trabalhadas, dão um caráter formidável à peça.
Existe um grande trabalho entre melodias da esquerda que são passadas para a esquerda, fato que cria um trabalho de alturas interessante de se evidenciar.
Na marcação L'istesso tempo o compositor informa que não gostaria de muitos Rubatos na seção. Bem sabemos como o romantismo nos influi com Rubatos. Todavia, Balakirev nos cede esta indicação. 
A peça se desenvolve até o momento em que a parte virtuosística se excede. O tema da mão direita passa a ser trabalhado em conjundo com a esquerda, em acordes, dando um efeito de desespero.
A coda, formidavelmente tecida em acordes descendentes, exprime uma dificuldade considerável.

Partituras:

Uma versão gratuita:


Em versão Urtext, a Editora Peters organizou um conjunto de obras do autor:

http://www.sheetmusicplus.com/title/Selected-Piano-Pieces-in-2-Volumes-Volume-1/1031974

Interpretações:

São poucos os pianistas que gravaram esta peça pouco conhecida. Uma notável interpretação foi feita por Margaret Fingerhut, que gravou um CD com obras de todos os compositores de Os Cinco.

Margaret Fingerhut:


Toccata em Dó# menor - Balakirev





domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sonata em ré menor, K.141, L.422 - Domenico Scarlatti

Um pouco sobre o compositor:

(Domenico Scarlatti: 1685 - 1757)
Giuseppe Domenico Scarlatti (1685 - 1757)  foi um compositor de origem italiana (embora a Itália ainda não fosse um Estado formado). Comicamente, três dos grandes mestres da música Barroca nasceram no mesmo ano (D. Scarlatti, J. S. Bach e Händel). Scarlatti desenvolveu extenso trabalho nas cortes Portuguesa e Espanhola a serviço das famílias reais. É de se esperar que sua música tenha sido influenciada pelo encanto ibérico, e isso é muito perceptível! Não apenas esse quê ibérico, mas também o aspecto eletista da corte pode ser encontrado dentr as mais diversas peças de Scarlatti. 
O pai de Scarlatti, Alessandro Scarlatti, fora um extenso compositor de árias e peças voltadas para canto. Já seu filho, considerado um dos melhores cravistas da época, dedicou sua música a seu instrumento fundamental.
Embora apresente peças secundárias, Scarlatti é renomado por suas 555 sonatas para instrumentos de teclado. 
Deve-se notar a utilização do termo "instrumentos de teclado", uma vez que nem todas sonatas foram voltadas apenas para o cravo. Poucas sonatas foram escritas voltadas para órgão e algumas até foram escritas para o pianoforte.

Vamos diferenciar cada um dos instrumentos:

Cravo: é um instrumento de teclado cujas cordas são pinçadas por penas ao tocar-se a tecla. A variação de dinâmicas era mínima, por essa razão, é fora de estilo romantizar ou exagerar dinâmicas ao se tocar peças barrocas em instrumentos de teclado contemporâneos. O instrumento não apresentava pedais.
(Cravo Duplo)

Órgão: é um instrumento que utiliza tanto teclas, voltadas para mão, como pedais, voltados para os pés. Órgãos foram, durante muito tempo, utilizados para peças sacras e religiosas! Muitos compositores barrocos fizeram extensas composições para esse instrumento.
 (Órgão residencial)

Pianoforte: é um instrumento de teclas em que as cordas são marteladas. O nome "pianoforte" decorre da possibilidade de variação mais clara de dinâmica, podendo fazer dinâmicas piano e forte (irônico, não?). O pianoforte, diferente do cravo, foi um instrumento que surgiu mais no desenvolvimento da música Clássica. O pianoforte apresentava pedais de sustentação, os quais, no entanto, eram ativados nos joelhos do intérprete.
 (Pianoforte)

Observa-se pela data de vida de Scarlatti, que este esteve incluso no início do desenvolvimento da música Clássica, e isto também se pode perceber em suas pessas mais tardias.
Existe, evidemente, uma forte necessidade de se catalogar as peças de Scarlatti. Imagine procurar uma Sonata dentre as 555! Por esse motivo, vários catálagos foram elaborados. Dentre os mais importantes estão o do cravista Ralph Kirkpatrick, que segue o catálogo K. (não confundir com o índice Köchel de Mozart), ordenado cronologicamente segundo as composições de Scarlatti; e o do pianista Alessandro Longo, que segue o catálogo L., cujas peças são agrupadas em "suítes".

As Sonatas de Scarlatti não são sonatas no termo Clássico. Não seguem todo aquele estilo da Forma Sonata desenvolvida por Haydn! As Sonatas de Scarlatti são peças binárias (i.e. a peça apresenta duas partes perceptíveis), que geralmente são divididas mediante ritornellos.

Voltando-nos à peça:

A Sonata em ré menor K.141 tem a indicação toccata. A Toccata é uma peça que busca desafiar a destreza e capacidade do intérprete. A Sonata L.422 é uma Toccata que testa o uso de notas repetidas e de saltos ENORMES dentre melodias. Devo ressaltar enormes, porque, embora o salto requisite apenas metade do teclado, estamos fazendo isto em Presto...

A peça faz uso na introdução de acordes em arpeggios na mão esquerda, que devem dar um efeito sonoro apenas. Existe, após uma seção de arpegios múltiplos, que devem ressaltar a nota superior, em canto, e em resposta com a esquerda (pergunta x resposta). Em seguida chega uma parte complicada, que necessita de extrema agilidade nos dedos e percepção rítmica, que é o uso de trinados seguidos de terminações alteradas em fusas (num Presto...).  Estes trinados e terminações dão um característico ar espanhol à peça.
Esta seção é seguida por uma outro estilo de notas repetidas, enquanto a mão esquerda introduz um jogo contrapontístico polifônico de importante caráter. É seguida por partes de insistência, cujas demonstrações de insistência devem ser bem evidenciadas! Após, chega a seção dos saltos, em que a mão direita deve ter o cuidado de cair sempre na nota certa e evitando de socar a primeira nota após o salto. Uma codetta termina a primeira parte da sonata.
A segunda parte é iniciada por um aspecto que lembra muito a ambientação da corte, a qual pode ser visualizada não mão esquerda, logo, deve ser tocada com classe! Enquanto a mão esquerda executa este caráter, a mão direita desenvolve-se em notas repetidas. A Segunda parte segue até o ponto em que retoma o desenvolvimento da primeira parte, mas agora na Tônica (a Primeira fora feita na Dominante), a seção se desenvolve até um Coda extendida que dá fim à Sonata.

É realmente uma peça de difícil execução, mas é simplesmente maravilhosa!
Partituras:

Não se pode dizer que existem edições tão aconselháveis quanto outras quando se diz em Scarlatti, uma vez que manuscritos não foram encontrados com autógrafo do compositor. O que existiram, foram cópias feitas por amigos de Scarlatti. Assim, dificilmente achamos edições totalmente confiáveis.
Logo, devemos pensar no estilo da época, no que as dinâmicas e articulações realmente deveriam dizer!
Nesse link estão 15 sonatas de Scarlatti, dentre elas a L.422:


A editora Henle Verlag selecionou diversas Sonatas de Scarlatti. Sendo uma fonte confiável, sempre. Você pode encontrar a Sonata K.141 em:


Interpretações:

Uma das interpretações obrigatórias dessa peça é a de Martha Argerich.



O engraçado.... digo, amedrontador, é que Martha nunca desejou gravar em CD essa Sonata, a qual usa de bis recorrentemente em seus concertos. O fato de não querer gravar decorre do seguinte: Martha tirou essa peça de cabeça quando tinha 9 anos ao ver sua professora tocando (um monstro pianístico, não?); e pelo fato de nunca ter visto a partitura, não sabe se toca corretamente a peça.

Evidente, Argerich toca a Sonata demasiadamente rápido. Pode-se dizer que é estilisticamente incorreto, o toque não teria repetição adequada num cravo. MAS QUEM SE IMPORTA? Ela toca muito bem de qualquer jeito!

Emil Gilels


Sonata K.141, L.422 de Scarlatti


A interpretação de Gilels é estilisticamente precisa, embora ele use um pouco do pedal sustain e da una corda numa passagem... Ele adota aquele estilo espanhol e relativo à corte! Tampouco corre muito (embora eu preferiria um pouco mais rápido), o que confere importância aos elementos em seu exato momento...

Papillons - Robert Schumann

Um apanhado inicial sobre o compositor:

 (Robert Schumann)

Robert Schumann (1810 - 1856) foi um compositor de origem germânica (alemão). O grande compositor foi um dos grandes partidários do Romantismo. De forma bem aprimorada, as peças de Schumann não se situam sobretudo no repertório pianístico, pois existem uma grande variedade de peças escritas para solo em outros instrumentos, de música de câmara, orquestral etc. Contudo, é visível que o piano fora seu instrumento de foco principal.
Schumann, também pianista, teve suas aulas com Friedrich Wieck, por cuja filha, Clara Wieck, Schumann se apaixonaria.
O compositor revela seu amor por Clara Wieck (Clara Schumann, após casada), em inúmeras de suas peças.
Contudo, Schumann, temperamental, e psicologicamente doente iria mutilar-se, tentar suicidar-se, e ser internado em uma intituição, onde morreria. 
Clara, seria a principal intérprete do marido na época, divulgando suas peças em meio à Europa.
Schumann atuava como compositor intertextual, assim como inúmeros outros compositores. O músico intertextual adota uma outra fonte artística e a modela em seus meios. No caso de Schumann, é visível seu gosto pela literatura. Duas de suas peças são diretamente relacionadas com a literatura, que é o caso de "Papillons op.2" e "Carnaval op.9". Aliás, estas duas peças apresentam muito em comum, inclusive intertextualidade da primeira para com a segunda!

Papillons, op.2, é uma peça baseada no livro Flegeljahre (Tempo da Indiscrição) do escrito Jean Paul. Contudo, é difícil notar diretamente a qual pontos as peças de Papillons se correlacionam à obra literária, uma vez que Schumann removera os títulos das peças, em real tentativa de fazer com que seus ouvintes traçassem paralelos entre as obras.

 (Jean Paulo)

O próprio título, "Papillons", nunca foi explicado para esta obra, embora seja notável as imagens poéticas de borboletas (tradução) ao longo da peça. A suavidade e a ideia de voo são notáveis!

Schumann também faz intertextualidade de um tema do século XVII de uma peça chamada "Grossvaterlied" (Canção do avô), também nomeada "Grossvater tanz".

 (Um cópia de Flegeljahre)

É notável como a suíte Papillons nos mostra uma variedade de peças que evocam a cena de baile. Oras, muitas das peças são valsas!
Façamos uma passagem rápida por cada segmento de Papillons:

Introduction: a breve introdução utiliza os temas do Grossvaterlied . Há uma emenda direta com a peça seguinte, e de forma coesa.
No.1: A marcação metronômica do próprio autor informa que a peça é uma passagem rápida. Contudo Schumann articula agogicamente a peça para que seja tranquila! O extenso uso de notas pedais faz com que a correlação entre as vozes seja de importante caráter. O tema dessa peça irá ser retomado no Finale e também dentre as peças do Carnaval op.9.

No.2: A peça marcada em  Prestissimo inicia com arpejos de notas únicas ascendentes e, após, com arpejos oitavados descendentes, como introdução. O tema aparece numa segunda parte, sendo repetido duas vezes! Logo, é marcado  a primeria vez em mezzo-forte e a segunda em pianissimo. As articuções de ligaduras estão em constante mudança, então deve-se efetuar uma leitura cuidadosa! Dentro da primera vez em mezzo-forte e na segunda vez em pianissimo existem duas repetições, embora alteradas de forma própria, mas ainda com articulações diferentes. O uso do ritornello pode ser interessante (embora opcional), já que, por ser prestissimo, a peça acaba sendo muito curta! É interessante notar que existe uma execução alternativa para a forma em pianissimo, sendo muito interessante usá-la, principalmente se for feito uso do ritornello. Isso realmente impõe maior variedade à peça.

No.3: Uma passagem de caráter diferente, menos singelo, mais agressivo, nos mostra uma série de marcatos. O tema que por vez se inicia com a esquerda, é, após, introduzido na direita. Muito interessante essa variação de alturas! Fui instruído uma vez em fazer a passagem de oitavas que se iniciara com a esquerda, com as duas mãos. O efeito é muito adequado, dando maior precisão e firmeza nessa parte introdutória. Por fim, Schumann atua com um cânone, uma vez que inicia o tema com a direita e depois com a esquerda, embora este tema seja deslocado. O que por vez iniciou com um forte, acaba num piano nada singelo, mas sim dramático!
No.4: O Presto realmente nos revela o porquê desta obra ter sido denominada Papillons (Borboletas), é incrível como a parte central desta peça nos dá a impressão de borboletas batendo as asas! O início do presto é calmo, singelo, condescendente, o que dá uma beleza incrível à passagem. A parte central é realmente escapista ao movimento anterior, o qual é após retomado, mas agora com, além das características anteriores, o ar de conclusão.

No.5: Uma parte realmente mais calma, com um tema melódico simplesmente magnífico. Como existe um jogo interpolador entre as vozes, é interessante destacar uma delas com um tema e outra delas com outro. Na indicação de texto original está marcado Basso cantando, e, acredite, é muito difícil fazer esse baixo de forma cantada, evocando essa voz grave... A coda termina com um quê saltitante, dando coesão à obra.

No.6: Uma real passagem dramática, introdutória que após se repete na coda. Uma parte em pianissimo e staccato na parte central é de difícil execução, se for o intuito fazer o correto. O tema inicial se repete após a passagem, sendo introduzido um novo desenvolvimento após. Como já foi dito, a coda é uma retomada do inicio. É interessante notar que o término abrupto dá um efeito de dramaticidade incrível à peça!

No.7: Essa peça tem um iníco bem melancólico, que na versão urtext da peça, pode ser repetido, o que realmente pode ser um meio de agravar o caráter da passagem. A parte central, já bem mais calma, mostra uma resolução da seção anterior. A voz superior é realmente fundamental aqui, devendo ser destacada! Schumann com maluquices em relação às aberturas de mãos, indica que os baixos devem ser segurados... Contudo, ao menos que o intérprete seja um Liszt, isso será difícil...

No.8: Em minha opinião, uma das mais bonitas partes de Papillons. A dificuldade dessa passagem é executar as ligações e independências sonoras das notas centrais de acordes da mão direita, o que é realmente difícil e, até mesmo os grandes intérpretes, não a destacam de forma adequada. Contudo, destacando-a, o efeito é totalmente incrível. Uma parte central e mais calma em resolução da primeira, mais dramática, dá um contraste muito precioso à seção. O próximo recorte, com arpeggios em colcheias no movimento rápido,  dará uma entrada triunfal para o tema inicial, agora utilizado como coda.

No.9: Este Prestissimo é de execução difícil. A parte introdutória é o menor problema. A parte central, em colcheias, com diferentes articulações numa mesma mão, nos dois sistemas, com alternância da melodia entre as mãos, é que é a parte complicada. Muitos executantes tocam tudo staccato, o que seria uma interpretação imprecisa...

No.10: O início Vivo dessa parte é  introdutório. O tema no Píu Lento, é uma retomada do tema do no.6! Após essa reabordagem, um novo tema é trabalhado. Este é muito mais calmo, lírico e melodioso, com necessidade de destaque da voz superior. Nota-se que existem acentos que devem ser executados na mão esquerda! A parte seguinte é quase cadenciada, bem mais calma, mas com um quê misterioso. Após, o tema anteriormente trabalhado é retomado. até o término da peça.

No.11: Realmente, uma das peças mais difíceis. Após a parte introdutória, um tema, que realmente faz jus ao nome Papillons é introduzido e trabalhado. Uma passagem mais movimentada segue, que se subdivide em quatro partes, uma pergunta (duplamente questionada), uma resposta descendente, um jogo de ornamentos rápidos, e um trabalho de conclusão. Após, o tema "papillonístico" é retomado. Uma nova seção, mais lenta, sincopada, em  piano é introduzida, voltando num risoluto para uma nova seção, agora em oitavas, com a esquerda sincopada! O tema secundário é retomado novamente na mesma forma, perguntas, resposta, desenvolvimento ornamentístico, conclusão, sendo, após, retomado o tema primário, o que nos leva à conclusão da peça.
Finale: O Finale retoma o tema do Grossvaterlied apresentado na introdução. O tema da primeira peça de Papillons também é retomado aqui. Após, o compositor faz o jogo entre o tema da primeira peça (na direita) e o tema do Grossvaterlied, de forma harmoniosa (na esquerda). Após, o compositor faz um novo jogo, retira progressivamente notas do tema da primeira peça. A coda é introduzida por um arpeggio, cujas notas são sustentadas e, aos poucos, retiradas, uma por uma. A peça de 15 minutos termina num molto pianissimo em staccato, cômico, não?

Partituras:

Essa peça é muito interessante de ser tocada antes do Carnaval op.9. A versão Urtext (em texto original), é mais adequada! Uma versão gratuita pode ser encontrada em:


A versão da Editora Henle Verlag, nos introduz um Urtext muito confiável:


Interpretações:

Nelson Freire


Introduction

no.1

no.2

no.3

no.4

no.5

no.6

no.7

no.8

no.9

no.10

no.11

Finale


Sviatoslav Richter


Papillons, op.2

Dentre os dois, eu realmente prefiro a interpretação de Nelson Freire, embora não concorde com algumas partes de sua interpretação. Contudo, ambos os intérpretes são formidáveis e muito notórios por isso...

Sonatina - Maurice Ravel

Façamos primeiro um breve apanhado sobre o compositor, a priori.

(Maurice Ravel)
Maurice Ravel (1875-1937) foi um compositor Francês. Estudou no Concervatório de Paris, tendo aulas com o famosíssimo Gabriel Fauré, autor de diversas obras muito conhecidas. Diferente de seu professor, Ravel era partidário de ideias que divergiam da linha tradicional da música romântica.  Homem muito inteligente, os pormenores, as formas, as modulações, os timbres, as articulações, as dinâmicas, dentre outras inúmeras, todas, seriam ferramentas indispensáveis em suas obras.

A Sonatina (1903-1905) foi composta de modo cômico. Seu primeiro movimento foi escrito em um concurso de composição de um revista francesa. Ravel fora o único inscrito e duvida-se que, mesmo sendo o único participante, teria ganho a competição, uma vez que seu primeiro movimento dispunha de alguns compassos a mais do permitido...

A Sonatina é dividida em três movimentos:

I. Modéré: Um movimento que não deve ser tocado tão agitado, embora a existência de fusas seja vasta! Um professor com quem tive aula, me lembrou que ao tocar essa Sonatina, devemos pensar num quarteto de cordas, e realmente isso é perceptível! As quatro vozes do movimentos se unem para formar um maravilhoso jogo harmônico! Como sempre, todas as marcações da partitura em texto original devem ser cuidadosamente analisadas. Ravel costumava dizer "Tudo o que quero está aí!", logo façamos tudo que o compositor quer!

II. Mouvement de Menuet: Ravel nos retorna a um tempo barroco em que Minuetos eram escritos de forma fixa, ou até num período clássico, nos quais os Minuetos poderiam ser seguidos de um Trio ou de um Scherzo. Não obstante, Ravel escreve seu segundo movimento sem Trio, nem similares. A existência de acentos fora de tempos fortes (em formação de hemíolas) é característico do início do movimento. As variações de andamento também dão sentimentalização à parte. É interessante notar, que esse movimento deve ser tocado com mais calma! A renomada pianista Martha Argerich, fantástica intérprete de Ravel executa esse movimento num quase Allegretto. Eu, particularmente, não gosto da interpretação, embora ame a pianista!

III. Animé: O terceiro movimento da Sonatina certamente pode ser considerado um dos mais difíceis. De caráter virtuosístico, o próprio compositor teria dito que não deveria executar esse movimento, já que não conseguiria executar tudo que propusera. É muito interessante pensar nesse movimento como uma seção orquestral, com trompetes enaltecendo a melodia inicial, e assim decorrendo. O difícil desse movimento, fora toda a agitação, é o destaque que deve ser dado às notas principais de melodia.

Uma coisa que vale para todos os movimentos é a estilística francesa que deve ser empregada. O estilo francês é muito isento de Rubatos! NÃO PENSE EM RUBATOS! Deixe a música fluir! Isso não é Chopin...
Outra coisa é o quesito da dinâmica forte. Não exagere. Faça a diferença entre forte do mezzo-forte do mezzo-piano etc, mas não exagere nunca nos fortes e fortíssimos!

A Partitura em texto original da Editora Durand, a qual fez contratos para publicar, de forma exclusiva, as obras de Ravel pode ser encontrada aqui:

http://216.129.110.22/files/imglnks/usimg/1/1e/IMSLP06173-Ravel_-_Sonatine__piano_.pdf

Essa versão por si só já é totalmente decente, uma vez que é da Editora Durand. Contudo, para aqueles que gostam de se apoderar dos livrinhos magníficos, a Editora Peters fez o catálogo de todas as obras de Ravel em formato Urtext (texto original):

http://www.sheetmusicplus.com/title/Sonatine/1014230

Pianistas que se aventurem nessa Sonatina..... cuidado....

Lembrem-se: qualquer peça de um compositor detalhista, tal como foi Ravel, será de trabalho árduo...
 
Interpretações:


Por Fordon Fergus-Thompson


I. Modéré

II. Mouvement de Menuet

III. Animé


O intérprete é simplesmente fantástico! Até hoje, de todas as versões, apresentações que ouvi, está é a melhor interpretação da Sonatina!

Jean-Efflam Bavouzet



I. Modéré

II. Mouvement de Menuet

III. Animé

A interpretação de Bavouzet, mesmo fantástica, não é tão preciosa e tão estilisticamente francesa quanto a de Thompson. Da mesma forma, um grande intérprete.

E quando tudo começa...

Caros leitores!

Casa haja algum de vocês por aí, devo dizer que o propósito deste blog é simplesmente a divulgação do já bem conhecido repertório pianístico.
Contudo farei vez daquelas peças pouco conhecidas também!
Cairei certamente naquelas peças que mais me emocionam e mais me motivam no estudo música erudita! Aliás, qual a graça de discutir o que não gostamos? :p

É a partir do intérprete que tiramos o que a música realmente nos deve passar, caso esse intérprete seja O Intérprete. Lembremos que a interpretação é algo muito pessoal, mas eu, pessoalmente, preferiria dizer, que a interpretação é uma correlação entre o eu-artístico e o compositor.

Espero que me acompanhem nestas formas da música universal...